sexta-feira, 26 de julho de 2013

Artigo




As características de um ambiente enriquecedor ou não, bem como com outros fatores orgânicos, psicológicos e sociais, têm demonstrado o favorecimento ou desfavorecimento no desenvolvimento da aptidão para a aprendizagem escolar. Assim também as características individuais, como modo de agir, de pensar e de sentir, valores, conhecimentos, visão de mundo, entre outras, dependem da interação do ser humano com o meio físico e social.

Um ambiente estimulador que vem ao encontro de expectativas e interesses do ser humano, que valorize a sua história, a sua vivência, que reforce a sua essência de ser é muito importante para o desenvolvimento infantil.

Sobre esse aspecto, Vygotsky (1991) ressalta que os fatores biológicos têm preponderância sobre os sociais somente no início da vida da criança. Aos poucos, as interações com seu grupo social e com os objetivos de sua cultura passam a governar o comportamento e o desenvolvimento de seu pensamento.

Um pai, por exemplo, ao passear com seu filho de aproximadamente dois anos, costuma chamar a atenção para todas as motos que vão encontrando no caminho. Vai mostrando as motos, fala o nome, marca e faz outros tipos de comentários. Mais tarde, em outras ocasiões essa criança demonstra o quanto incorporou das informações que recebeu, brincando na escola, nomeia com desenvoltura as motos de brinquedo.

Isso pode surpreender aos adultos que costumam julgar esta atitude como um sinal de perspicácia ou inteligência inata da criança. No entanto, pode-se interpretar esse fato como evidência de que as conquistas individuais resultam de um processo compartilhado.

Para Rego (1999, p.76) o “desenvolvimento e a aprendizagem estão inter-relacionados desde o nascimento da criança”. Seu cotidiano, o modo de observar, experimentar, imitar e receber instruções das pessoas mais experientes de sua cultura motiva a criança a aprender, a fazer perguntas e também a obter respostas para uma série de questões. As crianças obtêm e desenvolvem a linguagem tanto oral como escrita de acordo com o contexto a que estão expostas, o qual precisa envolver uma comunicação em que a linguagem tenha algum significado.

Se os assuntos discutidos nesse meio despertarem a atenção e o interesse, a criança, então, progredirá de forma satisfatória no uso da linguagem e no aprendizado em geral. Conforme Kato (2002), a forma de interação entre os adultos e as crianças, em um primeiro momento, não possui características didáticas, o que facilita a expansão dos tópicos conversacionais e enriquece o vocabulário da criança, o que faz com ela se motive e desenvolva a linguagem.

O desenvolvimento humano deve ser compreendido como a decorrência não de fatores isolados que amadurecem, tampouco de fatores ambientais que agem sobre o organismo, controlando seu comportamento, mas sim, de trocas recíprocas, que se estabelecem durante toda a vida entre indivíduo e meio, cada aspecto implicando sobre o outro.

O meio influencia diretamente no aprendizado. Kato (2002) reforça essa afirmativa e cita o exemplo de um educando que vai melhorando sua escrita em momentos sucessivos de produção, quanto mais desenvolver o pensamento e a imaginação, mais vai escrever. Então, se estiver sujeito ao contato com a leitura desde pequeno, quando lhe são contadas histórias, receber incentivo de criar e registrar momentos, mesmo que fantasiosos, desenvolverá aptidões para escrever bem e de forma coerente.

A família é a base primordial para que se estabeleça o aprendizado. Em consonância a esse assunto, Luria (2001) expõe a ideia de que o desenvolvimento da linguagem na criança não acontece pela reprodução de sons que ela emite, quando é ainda muito pequena, mas sim pela assimilação do som verbal que o adulto produz.

Conversando com as pessoas, a criança verá, a cada instante, seus pensamentos aprovados ou contrariados e descobrirá um mundo imenso de pensamentos diferentes dos seus, levando-a a modificar e/ou aprimorar seu modo de pensar.

O aprendizado é o processo fundamental para a construção do ser humano. O desenvolvimento da espécie humana, e do indivíduo dessa espécie está baseado na aprendizagem, que, para Vygotsky (1991), sempre envolve a interferência, direta ou indireta, de outros indivíduos e a reconstrução pessoal da experiência e dos significados.

 


REFERÊNCIAS


KATO, Mary Aizawa (Org.). A concepção da escrita pela criança. 3. ed. Campinas, SP: Pontes, 2002.

LURIA, Alexandr Romanovich. Pensamento e linguagem: as últimas conferências de Luria. Alexandr Romanovich Luria. Trad. Diana Myriam Lichtenstein e Mário Corso. Superv. Sérgio Spritzer. 2ª reimpressão. Porto Alegre: Artmed, 2001.

REGO, Teresa.  Uma perspectiva histórica – cultural da educação. 7. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Tradução José Cipolla Neto, et al. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.



Justina Ubessi Lagemann

Especialista em Linguística e Ensino de Línguas