As características de um ambiente enriquecedor ou
não, bem como com outros fatores
orgânicos, psicológicos e sociais, têm demonstrado o favorecimento ou
desfavorecimento no desenvolvimento da aptidão para a aprendizagem escolar.
Assim também as características individuais, como modo de agir, de pensar e de
sentir, valores, conhecimentos, visão de mundo, entre outras, dependem da
interação do ser humano com o meio físico e social.
Um ambiente
estimulador que vem ao encontro de expectativas e interesses do ser humano, que
valorize a sua história, a sua vivência, que reforce a sua essência de ser é
muito importante para o desenvolvimento infantil.
Sobre esse aspecto, Vygotsky (1991) ressalta que
os fatores biológicos têm preponderância sobre os sociais somente no início da
vida da criança. Aos poucos, as interações com seu grupo social e com os
objetivos de sua cultura passam a governar o comportamento e o desenvolvimento
de seu pensamento.
Um pai, por exemplo, ao passear com seu filho de
aproximadamente dois anos, costuma chamar a atenção para todas as motos que vão
encontrando no caminho. Vai mostrando as motos, fala o nome, marca e faz outros
tipos de comentários. Mais tarde, em outras ocasiões essa criança demonstra o
quanto incorporou das informações que recebeu, brincando na escola, nomeia com
desenvoltura as motos de brinquedo.
Isso pode surpreender aos adultos que costumam
julgar esta atitude como um sinal de perspicácia ou inteligência inata da
criança. No entanto, pode-se interpretar esse fato como evidência de que as
conquistas individuais resultam de um processo compartilhado.
Para Rego (1999, p.76) o “desenvolvimento e a
aprendizagem estão inter-relacionados desde o nascimento da criança”. Seu
cotidiano, o modo de observar, experimentar, imitar e receber instruções das
pessoas mais experientes de sua cultura motiva a criança a aprender, a fazer
perguntas e também a obter respostas para uma série de questões. As crianças
obtêm e desenvolvem a linguagem tanto oral como escrita de acordo com o
contexto a que estão expostas, o qual precisa envolver uma comunicação em que a
linguagem tenha algum significado.
Se os
assuntos discutidos nesse meio despertarem a atenção e o interesse, a criança,
então, progredirá de forma satisfatória no uso da linguagem e no aprendizado em
geral. Conforme Kato (2002), a forma de interação entre os adultos e as
crianças, em um primeiro momento, não possui características didáticas, o que
facilita a expansão dos tópicos conversacionais e enriquece o vocabulário da
criança, o que faz com ela se motive e desenvolva a linguagem.
O desenvolvimento humano deve ser compreendido
como a decorrência não de fatores isolados que amadurecem, tampouco de fatores
ambientais que agem sobre o organismo, controlando seu comportamento, mas sim,
de trocas recíprocas, que se estabelecem durante toda a vida entre indivíduo e
meio, cada aspecto implicando sobre o outro.
O meio
influencia diretamente no aprendizado. Kato (2002) reforça essa afirmativa e
cita o exemplo de um educando que vai melhorando sua escrita em momentos
sucessivos de produção, quanto mais desenvolver o pensamento e a imaginação,
mais vai escrever. Então, se estiver sujeito ao contato com a leitura desde
pequeno, quando lhe são contadas histórias, receber incentivo de criar e
registrar momentos, mesmo que fantasiosos, desenvolverá aptidões para escrever
bem e de forma coerente.
A família é a
base primordial para que se estabeleça o aprendizado. Em consonância a esse
assunto, Luria (2001) expõe a ideia de que o desenvolvimento da linguagem na
criança não acontece pela reprodução de sons que ela emite, quando é ainda
muito pequena, mas sim pela assimilação do som verbal que o adulto produz.
Conversando com as pessoas, a criança verá, a cada
instante, seus pensamentos aprovados ou contrariados e descobrirá um mundo
imenso de pensamentos diferentes dos seus, levando-a a modificar e/ou aprimorar
seu modo de pensar.
O aprendizado é o processo fundamental para a
construção do ser humano. O desenvolvimento da espécie humana, e do indivíduo
dessa espécie está baseado na aprendizagem, que, para Vygotsky (1991), sempre
envolve a interferência, direta ou indireta, de outros indivíduos e a
reconstrução pessoal da experiência e dos significados.
REFERÊNCIAS
KATO, Mary Aizawa (Org.). A concepção da escrita pela criança. 3.
ed. Campinas, SP: Pontes, 2002.
LURIA, Alexandr Romanovich. Pensamento e linguagem: as últimas
conferências de Luria. Alexandr Romanovich Luria. Trad. Diana Myriam
Lichtenstein e Mário Corso. Superv. Sérgio Spritzer. 2ª reimpressão. Porto
Alegre: Artmed, 2001.
REGO, Teresa. Uma
perspectiva histórica – cultural da educação. 7. ed. Rio de Janeiro: Vozes,
1999.
VYGOTSKY,
Lev Semenovich. A formação social da
mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Tradução
José Cipolla Neto, et al. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
Justina Ubessi Lagemann
Especialista em Linguística e Ensino de
Línguas